sexta-feira, 23 de março de 2012

O espelho no copo de cachaça.

Uma típica mesa de bar da Lapa, um casal se aproxima e senta na mesa mais distante. Ela procura o garçom enquanto ele está mais preocupado em se acomodar direito. 
Ela: Bigode! Me traz uma lua nova e uma água sem gás!
Ele: Continua com a mania de beber água de passarinho junto com água que passarinho não bebe?
Ela: Sou pássaro, esqueceram de fazer o resto.
Ele: Parafraseando Manoel de Barros.
A cachaça chega, ele então faz o seu pedido, exaltando que ela deveria esperar para poderem brindar. Seu bigode - o garçom, se diverte.
Ela: Já reparou que toda vez que bebo cachaça parece que fico mais perto de mim?
Ele: Mal começou e já esta bêbada.
Ela: Sério, pensa comigo, tenho 22 anos, sei sonhar como ninguém e não estou nem perto de terminar nenhuma das minhas faculdades. 
Ele: Fazer direito e cinema não é fácil, você volta pro direito semestre que vem e vai fazer junto com cinema?
Ela: Isso, é o que pretendo né. - Enquanto dá um gole na sua cachaça e logo em seguida na água. 
A cerveja que ele pediu chega, ele se serve.
Ele: Vamos brindar! Só não sei pra que.
Ela: Um brinde ao brinde! - Os dois riem, brindam e ela termina a sua cachaça.
Ele: Como anda o francês, continua falando tão bem quanto a Isabelle Adjani?
Ela: Que nada, falo tão bem quanto...ih, não sei, anda razoável. Sinto falta de Paris, ô cidadezinha.
Ele: Cidadezinha linda, aquele tempo lá te fez um bem tremendo, voltou outra pessoa.
Ela gesticula em direção ao garçom pedindo uma outra cachaça.  
Ele: Tem que aproveitar isso, esse seu momento.
Ela: Uhun, vou aproveitar tomando minha segunda cachaça! Depois pensei em irmos ao Democráticos, vamos?
Ele: Vamos sim, já perdeu o medo de dançar?
Ela: Com a segunda cachaça o medo vai embora e só volta amanhã de manhã.
A cachaça chega, ele aproveita e pede a conta. O garçom faz a conta na hora e deixa na mesa. 
Ela: E aí, qual a facada? Nossa, preciso parar de andar com bolsas grandes, não acho nada aqui dentro. - Enquanto procura na bolsa pela carteira.
Ele: Deixa comigo, não é todo dia que posso beber com você assim, parece que você está aqui e mais em nenhum lugar.
Ela: Aaah, ok, depois te pago uma cerveja. Te contei da minha última mania?
Ele: Não, o que foi agora? - Enquanto tira da carteira o dinheiro para pagar a conta.
Ela: Sempre deixango gorjeta, por isso que o Seu bigode luta pra sentarmos na área dele. 
Os dois se levantam e caminham em direção oposta a dos carros.
Ele: Assim que sou bem atendido, mas conta, o que arranjou agora?
Ela: Estou revendo uns filmes que sempre gostei e anotando mil coisas, falas, posicionamento,quadros, figurino... 
Ele: Sua cara, aproveitar o ócio. 
Ela: Verdade, verdade...
Os dois vão sumindo, bem devagar. 

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